Há duas semanas discutimos as limitações de latitude de exposição das câmeras digitais e, na semana passada, explicamos como começar a contornar o problema usando a técnica de bracketing ou fotografando em modo RAW. Pois agora é o momento de juntar tudo isso nas chamadas fotos HDR, abreviatura de High Dynamic Range, de alta latitude de exposição. Dê só uma olhada nas fotos do grupo dedicado a HDR no Flickr, como esta aqui, de autoria de Jan Sefti, reproduzida sob licença Creative Commons:
Fotos assim tanto podem ser obtidas através da combinação de múltiplas imagens capturadas com diferentes exposições (isso mesmo, usando bracketing), quanto do pós processamento de arquivos RAW, que por si só já permitem algum ajuste da exposição. De um jeito ou de outro, o resultado almejado são fotos em que os detalhes da cena estejam presentes tanto nas áreas de sombra quanto de luz.
Uma ótima referencia para quem pretende se aprofundar no universo das fotos HDR e domina bem o inglês é a série Art of HDR Photography, de Uwe Steinmueller, assim como todos os outros artigos sobre o assunto que o fotógrafo já publicou em seu site. Mas para quem só quer ter uma idéia de como a técnica funciona e fazer algumas experiências, espero que esta coluna sirva como um ponto de partida.
Em tempo: fotografia HDR é frequentemente associada a imagens supercoloridas, às vezes um tanto psicodélicas e artificiais. Sim, estes efeitos podem ser obtidos com a técnica, mas também podem ser simulados com filtros que só dão um “visual HDR” sem realmente aumentar a latitude de exposição. Da mesma forma, fotos HDR não precisam necessariamente ter esse aspecto exagerado – só não podem ter detalhes perdidos nas sombras e luzes.
Como criar uma imagem HDR
Alem de uma sequência de arquivos com exposições variadas como a que geramos com o bracketing, produzir uma foto HDR requer um programa capaz de fundir as imagens. O poderoso Adobe Photoshop já faz isso há algum tempo através do recurso “Merge to HDR”, mas foi apenas na versão CS5 que a Adobe passou a oferecer ferramentas mais completas para criar essas imagens.
Só que o Photoshop está longe de ser a única opção para criar HDRs. Programas dedicados, como o HDR Efex Pro, da Nik Software; o HDR Express, da Unified Color; e o Photomatix, da HDRsoft, produzem excelentes resultados (até melhores que os das versões CS4 e anteriores do Photoshop) e, dependendo das suas necessidades, podem sair bem mais barato.
Na tela abaixo, usamos o Photomatix Pro 4 para fundir as cinco imagens do pinheirinho que apareceram no exemplo de bracketing da coluna anterior, mas se você quiser brincar com o programa antes de sair fotografando especialmente para isso, pode baixar do próprio site da HDRsoft alguns pacotes de 3 fotos, como estas de Veneza, bem mais profissionais.
Se as fotos em questão tiverem sido capturadas com o uso de um tripé e sem movimentos na cena, a fusão automática pode funcionar de primeira, com as configurações padrão do programa. Neste caso, basta escolher um dos modos predefinidos ou brincar com os ajustes de contraste e saturação até obter um resultado que lhe agrade.
Quando existem leves variações de enquadramento e/ou objetos que se moveram entre uma foto e outra, é importante ativar a opção de alinhamento pela justaposição de elementos (matching features) e a redução de “fantasmas” (ghosting artifacts) nas opções de pré-processamento. Já se as fotos originais são RAW, sem filtro de ruído, ou simplesmente a sua câmera gera muito ruído, trate de ativar a opção correspondente (reduce noise).
Sem saída
Uma aparente contradição da fotografia HDR é que, nem os monitores de computador comuns, nem as impressoras fotográficas são capazes de reproduzir a profundidade de cor armazenada nos arquivos de 32 bits que estamos criando. Os JPGs comuns, de 8 bits, também não. Ora, de que adianta ter esse trabalho todo, então, se não há como “dar saída” para tanta informação?
É aí que entra o recurso do mapeamento tonal (tone mapping), quase sempre usado na hora de gravar ou exportar uma imagem processada em HDR. Não vou discutir os detalhes técnicos dessa prática (até porque, honestamente, só entendo uma parte deles), mas basta saber que, em linhas gerais, ela explora características da visão humana para nos convencer de que estamos vendo um contraste maior do que seria possível exibir em determinada mídia.
Entre outras coisas, o mapeamento tonal se vale da percepção do contraste local (entre áreas próximas da imagem) em oposição ao contraste global (da foto como um todo). E se a fotografia HDR como conhecemos hoje só faz sentido no ambiente digital, a técnica de mapeamento tonal vem dos tempos do filme. Quem sabe não volto a este assunto em uma futura coluna?
FONTE: techtudo.com.br
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